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Diferido - O potencial de significados da cor preta em representações visuais no jornal Folha de S.Paulo e nuances da identidade cultural do Negro, no Brasil
Este artigo tem como tema a construção social da cor preta, como um processo que abarca as possibilidades de atualização e significação da cor preta, entre elas as que se dão nos produtos midiáticos, com foco em representações visuais - desenhos, reproduções de pinturas, imagens televisivas e cinematográficas, da publicidade e reproduções fotográficas. Consideramos que a cor é um construto da sociedade, pois esta atribui definições e significações, constrói códigos e valores, organiza suas práticas e determina suas implicações envolvendo uma determinada cor. O termo negrura, no contexto desse artigo, designa aspectos de tal constructo envolvendo a cor preta, que além da experiência fisiológica com esta cor, envolve também os simbolismos atados à vivência das pessoas, no qual, as mídias, atualmente, desempenham também um papel relevante. Assim, objetiva-se, de modo amplo, contribuir para a compreensão do processo de construção social da cor preta e, de modo restrito, refletir sobre as implicações desse processo na construção da identidade cultural do negro, uma vez que representações visuais com pessoas negras estão incluídas nesta pesquisa. A coleta de representações visuais foi realizada no ano de 2020, no jornal Folha de S.Paulo, sorteando-se uma semana por mês. As 380 representações visuais encontradas, que tem a cor preta na sua composição, foram alocadas nas categorias: celebridade, cotidiano, entretenimento, pintura e publicidade, dos quais tomamos uma amostra estratificada com 5% do total, o que corresponde a 20 representações visuais sorteadas, sendo 1 representação visual para a categoria celebridade; 10, para cotidiano; 3 representações visuais para entretenimento; 1, para pintura/desenho e 5 representações visuais para publicidade. As representações visuais da amostra foram analisadas seguindo estratégias advindas da gramática especulativa, um dos ramos da semiótica ou lógica de Charles Sanders Peirce, que requerem do analista três tipos de olhar: o contemplativo, o observacional e o generalizador, que buscam, respectivamente, os aspectos qualitativos engendrados nas representações visuais, tais como cores, formas, texturas e jogos compostos com tais elementos; os referenciais, ou pistas de aspectos de existentes, da realidade e os aspectos relativos às regras, normas, convenções compartilhados culturalmente. Com isso é possível inventariar – pelos interpretantes possivelmente gerados – o potencial significativo da cor preta. Sendo assim, o artigo apresenta, inicialmente, reflexões sobre a cor preta como um construto social, sobre o processo de construção de identidade do negro e descrição e análise das representações visuais da amostra. Entre os resultados, enfatizamos que a publicidade pode contribuir de modo mais efetivo para que novos significados sejam agregados à cor preta, bem como abre espaços para reflexões sobre a construção da identidade cultural do negro para além da estrutura de submissão vinculada à escravidão e à (re)atualização da tradição, ou à experiência originária. Esta pesquisa é relevante para a comunicação por enfatizar o papel de representações visuais na produção de conteúdo jornalístico, com potencial para ressignificar práticas socioculturais que envolvem a cor preta, o que reverbera em implicações no processo de construção de identidade do negro.