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Os significados advindos com representações visuais da negrura no jornal Folha de S.Paulo: implicações para a identidade cultural do Negro, no Brasil
Este artigo apresenta resultados de pesquisa que tem como objeto de estudo a construção social da negrura, enquanto um processo que abarca as possibilidades de atualização e significação da cor negra, entre elas a que se dá nos produtos midiáticos, com foco nos que envolvem representações visuais, tais como desenhos, pinturas, imagens televisivas e cinematográficas, da publicidade e outras modalidades. Consideramos que este processo está vinculado à construção da identidade cultural do Negro e tendo em conta o contexto cultural do Brasil, as representações visuais de afrodescendentes foram incorporadas. O método investigativo aplicado por Eco, em A história de Beleza, é retomado na pesquisa, com a constituição de uma amostra composta por representações visuais, com a cor preta, coletadas em diversas mídias, no Brasil, em períodos diferentes, para avaliar que significados e valores elas agregam à negrura. Assim, neste artigo, objetiva-se, de modo amplo, contribuir para a compreensão do processo de construção social da negrura e, de modo restrito, apresentar questões da construção de identidade do Negro, conforme Mbembe; explicitar o conceito de signo e tratar do processo de geração de interpretantes ou efeitos do signo, na perspectiva da semiótica peirceana, bem como inventariar significados e valores relativos à negrura postos em circulação pelas representações visuais do jornal Folha de S.Paulo. Foram coletadas 215 representações visuais, no acervo online do jornal mencionado, no período de 01/03/2019 e 31/03/2019, alocadas nas seguintes categorias: celebridade (15 representações visuais ou 7% do total); cotidiano (58 ou 27% do total de representações visuais); entretenimento (40 ou 19%); pintura (3 ou 1%) e, por fim, publicidade (99 ou 46% do total). As representações visuais selecionadas – uma para cada categoria – foram analisadas, seguindo estratégias advindas da gramática especulativa, um dos ramos da semiótica ou lógica de Charles Sanders Peirce, que requer do analista três tipos de capacidade: a contemplativa, isto é, a de abrir as janelas da mente e ver o que está diante dos olhos; a de saber distinguir, discriminar resolutamente diferenças nessas observações e a de ser capaz de generalizar as observações em classes ou categorias abrangentes. Entre os resultados, enfatizamos que a publicidade contribui de modo mais significativo para que novos significados sejam agregados à negrura, refletindo assim a possibilidade de contribuir para que o processo de construção da identidade cultural do Negro vá para além da estrutura de submissão vinculada à escravidão e à (re)atualização da tradição, ou à experiência originária. Esta pesquisa é relevante para a Comunicação, pois apresenta reflexões sobre as possibilidades de ressignificações de práticas socioculturais envolvendo produtos midiáticos, não no sentido de que estes possam impor valores e significados, mas que quando em circulação nas mídias, estes crescem de interpretações em interpretações, possibilidades estas engendradas nos próprios produtos midiáticos, aqui vistos na perspectiva da semiótica peirceana.