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Desinformação nas eleições presidenciais brasileiras de 2018: uma análise de tipo e tema dos 139 boatos desmentidos pelo Projeto Comprova
sta investigação analisa e classifica, a partir das variáveis tipo e tema, 139 boatos eleitorais e políticos desmentidos durante as eleições presidenciais brasileiras de 2018. O objetivo é, por meio da análise e da classificação, identificar aspectos centrais da estrutura dos boatos, que foram verificados pelo Projeto Comprova, trabalho de checagem de fatos que reuniu 24 veículos jornalísticos do Brasil na verificação de boatos ao longo de 84 dias da mais recente campanha presidencial, entre agosto e outubro de 2018. O método de checagem de fatos consiste em, por meio de apuração jornalística, analisar a veracidade de informações duvidosas e/ou suspeitas (MANTZARLIS, 2017). A circulação de boatos eleitorais e políticos em canais digitais de comunicação tem se revelado um problema complexo e relevante, especialmente em períodos eleitorais, como americano (2016), francês (2017) e brasileiro (2018). No Brasil, o fenômeno é singularmente expressivo face à significativa parcela da população que consome informações e notícias majoritariamente a partir de Redes Sociais de Internet (RSIs), como Facebook e Twitter. O problema, descrito na literatura como manifestação contemporânea de desinformação (SERVA, 2001) e desordem de informação (WARDLE, 2017), tem sido estudado a partir de diversas perspectivas, como a difusão em redes sociais (FRIGGERI ET AL, 2014; VOSOUGHI, ROY E ARAL, 2018), a formação de câmara de eco (DEL VICARIO ET AL, 2015), a influência de algoritmos de distribuição de conteúdo (FIGUEIRA E OLIVEIRA, 2017; GERLITZ E HELMOND, 2013; GILLESPIE, 2014) e o favorecimento de candidatos (ALLCOTT E GENTZKOW, 2017). A metodologia de análise usada nesta investigação é quantitativa, que “significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las” (PRODANOV, 2013). Os 139 boatos foram analisados a partir de duas variáveis. A variável tipo considerou 7 categorias estabelecidas por WARDLE (2017): Conteúdo Enganoso, Conteúdo Fabricado, Conteúdo Impostor, Falsa Conexão, Falso Contexto, Manipulação de Contexto e Sátira/Paródia. A variável tema considerou 12 categorias por nós criadas: Atentado a Jair Bolsonaro, Biografia do candidato, Crime eleitoral, Opinião do candidato, Episódio de campanha, Episódio histórico, Manifestação de apoio ao candidato, Manifestação de crítica ao candidato, Pesquisa eleitoral, Prisão de Lula, Processo eleitoral e Projeto do candidato. Os resultados indicam, na variável tema, predominância das categorias Processo eleitoral (n=17/139), Manifestação de apoio ao candidato (n=16/139) e Opinião do candidato (n=17/139). Na variável tipo, predomina a categoria Conteúdo Fabricado (n=102/240), com diferença expressiva sobre a segunda categoria de maior prevalência (Conteúdo enganoso [n=42/139]). Diante disso, a investigação conclui que há expressiva variação temática dos boatos, inclusive com foco no processo eleitoral em si, a despeito dos candidatos da disputa. Também conclui que são preeminentes os boatos estruturados sobre informações inverídicas, com relevante primazia sobre as demais categorias, que, entre outros aspectos, consideram elementos como contexto e uso enganoso de informações verídicas.